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"Essa experiência compartilhada sempre será a âncora da comunidade. Sabemos como é ser rejeitado, o que é não ter nada. Conhecemos o medo de ser expulsos da própria casa."
Depois de serem despejados, alguns membros dos Golden Gays foram para abrigos, mas disseram que se sentiam inseguros em dormitórios masculinos e desconfortáveis com o fato de muitos desses locais nas Filipinas serem administrados por organizações ligadas a igrejas. Na ausência de uma estrutura familiar tradicional, tiveram que criar os próprios sistemas de apoio.
Durante a pandemia, o governo proibiu os filipinos mais velhos, considerados mais vulneráveis à infecção por Covid, de sair de casa. Também vetou grandes reuniões, para evitar novos surtos, resultando na suspensão das apresentações dos Golden Gays. "As festas acabaram. Não havia mais shows. Os bares foram fechados. De onde viria o dinheiro? Dançarinas foram as primeiras a ser atingidas pela pandemia", diz Robert Pangilinan, 55, outro integrante do grupo, que atende pelo nome artístico de Odessa Jones.
O grupo sobreviveu com doações de fãs e apoiadores. "Fomos amados. A comunidade não nos abandonou."
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A casa dos Golden Gays é pintada de verde, a porta enfeitada com borlas de arco-íris dando as boas-vindas. Fotografias de shows decoram as paredes. Os moradores dividem tarefas como limpar, cozinhar e cuidar dos outros. Tornar-se um residente é um processo muito informal, que mudou ao longo dos anos. As pessoas podem ser encaminhadas por outros moradores, e as portas estão abertas para artistas que estão envelhecendo e pedem ou precisam de abrigo.
Em uma tarde recente, risos enchiam a casa junto com o borbulhar do cozido no fogão. Enriquez deu as mãos a Odessa Jones. Uma pequena urna de mármore estava numa prateleira, com as cinzas de Lola Rica —que morreu durante a pandemia.
Por causa das restrições da Covid, os Golden Gays não puderam realizar um funeral adequado para Lola Rica. Um dia, quando tiverem dinheiro, sonham em ir à praia, talvez de férias, vestidas de renda preta e espalhar as cinzas no mar.
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Agora que as regras da Covid foram atenuadas nas Filipinas, os Golden Gays voltaram ao palco. Em um domingo úmido recente, num modesto shopping de Manila, eles se prepararam para um show, usando maquiagem elaborada e vestidos brilhantes. Hoje, esses preparativos exigem um pouco mais de esforço. Enriquez não consegue se abaixar para calçar salto alto. Lola Mon às vezes precisa de apoio para subir ao palco. Uma nova geração –os Silver Gays– tornou-se fundamental para o show.
As apresentações dos Golden Gays geralmente são concursos durante os quais cada lola exibe um talento, como dar cambalhotas com salto alto ou dublar canções. Os frequentadores do shopping param para dar uma olhada. Seus olhos brilham. Os shows são uma reminiscência da cultura filipina da "fiesta", onde cada bairro celebra as festas de um santo padroeiro.
"É alegre", diz Odessa Jones. "Senti saudades dos aplausos e dos gritos do público. Tenho uma energia ilimitada, porque quero mostrar às pessoas que ainda estamos vivos."
Quando o show terminou naquele domingo, os Golden Gays se deram as mãos enquanto cantavam "If We Hold on Together" (se nós resistirmos juntos), de Diana Ross. Depois do show, foram para casa comemorar a apresentação com cerveja. "Nossa casa é linda, porque é onde existe o amor completo", diz Lola Mon. "O amor circula entre nós. Nossa camaradagem é total e, como estamos juntos o tempo todo, nosso companheirismo é sólido."
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.