Criptos de renda fixa? Veja como aproveitar os juros altos usando ativos digitais.
Diante da expectativa de manutenção do “inverno cripto” pelos próximos meses, outros investimentos baseados na tecnologia de blockchain chamam a atenção do mercado: as criptos de renda fixa , também chamados de renda fixa tokenizada .
Em uma definição simplificada, um token representa um ativo do “mundo real”. As opções de cripto em renda fixa são normalmente lastreadas em opções já bastante conhecidas do mercado financeiro, mas normalmente restritas a investidores institucionais, como bancos e gestoras.
Entre as ofertas disponíveis no mercado brasileiro, os destaques vão para tokens de recebíveis, consórcios, energia e precatórios.
Com o uso da blockchain , esses contratos são fragmentados em centenas ou milhares de cotas e ofertados para investidores pessoa física da mesma forma que outros produtos de renda fixa do mercado tradicional.
“Não estamos em um momento agradável para criptos, então esses tokens acabam sendo um ativo anticíclico”, ressalta Vitor Delduque, diretor de novos negócios no MB Tokens, braço da exchange Mercado Bitcoin.
Saiba mais:
Como os contratos de renda fixa funcionam?
Assim como os contratos de recebíveis ofertados por instituições, os criptos de renda fixa também operam com valores adiantados de contratos. Nesta modalidade, empresas “vendem” a dívida para um emissor para receber o pagamento de forma antecipada, geralmente com alguma espécie de desconto.
Por exemplo, uma determinada empresa tem R$ 1 milhão para receber até o fim do ano. Para ter acesso à parte do valor antes, ela vende o direito de receber esse dinheiro para um terceiro por um valor descontado – R$ 800 mil, por exemplo. Essa diferença de R$ 200 mil é o que gera o retorno do investimento ao comprador.
Os tokens permitem ao investidor comprar uma participação na operação e receber uma fatia proporcional do rendimento.
Quem compra um token de renda fixa vai receber o valor investido mais uma remuneração definida de forma prefixada ou pós, conforme a modalidade do acordo, assim como as opções disponíveis no Tesouro Direto, como os títulos Selic e prefixados.
“Se junta um ativo financeiro reconhecido juridicamente e que tenha lastro com uma blockchain para transformar em contrato digital. Dessa forma, se consegue fragmentar em diversos pedaços, e o investidor não precisa comprar uma cota inteira”, explica Ayron Ferreira, analista chefe da T itanium Asset Management.
Mais rendimentos, mais riscos.
A previsão de os juros continuarem acima de dois dígitos deve manter a renda fixa entre as principais opções dos investidores em 2023. Em um cenário de tantas incertezas doméstica e global, títulos públicos ou privados que rendem acima de 1% ao mês com riscos baixos não são nada desprezíveis.
Saiba mais:
Nos criptos de renda fixa, os retornos chegam a 1,5% ao mês, segundo opções disponíveis no Mercado Bitcoin e na Liqi, algumas das corretoras mais conhecidas no cenário brasileiro de ativos tokenizados .
O investimento inicial depende do tipo de contrato e da corretora escolhida. No site da Liqi há contratos com aportes mínimos de R$ 25, enquanto as opções do Mercado Bitcoin exigem um investimento de ao menos R$ 100.
O retorno mais relevante, porém, também acompanha riscos maiores. Segundo Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed, um dos principais pontos de atenção deve ser a origem da dívida e para qual instituição o investidor está emprestando o dinheiro.
Este tipo de investimento, segundo ele, “é mais recomendado para investidores que topam correr mais riscos, então são opções que cabem em carteiras mais diversificadas”, pontua.
Ferreira, da T itanium, também destaca o risco de baixa liquidez dos contratos, principalmente com os de longa duração.
Benefício tributário.
Além de taxas mais atrativas que as demais opções de renda fixa, os ativos tokenizados também desfrutam de uma política tributária mais branda, ou seja, com mais benefícios aos investidores.
Pelas regras atuais, o investidor só paga imposto de renda no lucro obtido com criptomoedas se o volume de transações com estes ativos num único mês for igual ou maior a R$ 35 mil. Se as transações ficarem abaixo desse valor no período, o investidor fica isento de tributação.
Vale ressaltar que entram na conta dos R$ 35 mil todas as operações com criptoativos feitas no mês e que a Receita Federal determina que todo ativo digital com valor de compra de até R$ 5 mil deve ser declarado pelos contribuintes.
O tratamento tributário, porém, ainda é mais vantajoso do que o dado para outros ativos de renda fixa, como os CDBs e o Tesouro Direto. Neles, há cobrança de IR sobre os rendimentos sempre, sem regra de isenção.
Saiba mais:
Visão da CVM.
A tokenização de ativos é uma criação recente do mercado financeiro e ainda está ganhando espaço no Brasil. Com isso, há também um risco regulatório em torno deste tipo de investimento.
Em setembro do ano passado, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) exigiu explicações ao Mercado Bitcoin sobre as ofertas de criptos associados à renda fixa. Segundo Delduque, da MB Tokens, todas as informações solicitadas foram encaminhadas e a empresa não sofreu nenhuma sanção.
Em um parecer divulgado em outubro do ano passado, a CVM elencou uma série de critérios que definem um criptoativo. A tokenização de ativos, porém, não integrava a lista, ou seja, está fora da jurisdição da autarquia.
“Usualmente, criptoativos (ou a sua propriedade) são representados por tokens , que são títulos digitais intangíveis. De acordo com o documento, a tokenização em si não está sujeita à prévia aprovação ou registro perante a CVM”, frisou a entidade em comunicado à Agência TradeMap .
Mesmo assim, a “xerife do mercado financeiro” ressaltou que acompanha inovações envolvendo tokens em sua plataforma, para que empresas autorizadas possam desenvolver novas modalidades de atividades regulamentadas no mercado de capitais.
⇨ Quer operar melhor na bolsa? A Guide Investimentos vai te GUIAR!
